Um partido político pode enviar-lhe publicidade?

Um partido político pode enviar-lhe publicidade?
Um partido político pode enviar-lhe publicidade?

Um partido político pode enviar-lhe publicidade? Entenda os seus direitos e deveres

Introdução: A publicidade política e a privacidade dos cidadãos

Num contexto onde a informação circula com rapidez e intensidade, sobretudo em períodos eleitorais, os partidos políticos reforçam os seus esforços para comunicar com o eleitorado. Essa comunicação pode incluir o envio de publicidade política através de correio, correio eletrónico, SMS ou redes sociais. Surge, por isso, uma questão essencial: um partido político pode enviar-lhe publicidade sem o seu consentimento?

Neste artigo, entenderá quando a prática é permitida por lei, conhecerá os limites impostos pela legislação, descobrirá quem pode acessar sua morada e saberá o que fazer caso seus dados sejam utilizados de forma indevida.

O que se entende por publicidade política?

Publicidade política refere-se a qualquer tipo de comunicação com a intenção de influenciar a opinião ou comportamento eleitoral dos cidadãos. Isso inclui:

  • Envio de correspondência com mensagens políticas.
  • Emails ou mensagens SMS com propaganda partidária.
  • Chamadas telefónicas com gravações automáticas.
  • Anúncios pagos em redes sociais ou motores de pesquisa.

Estas práticas são mais comuns durante os períodos de campanha eleitoral, embora, ocasionalmente, possam ocorrer fora dessas datas — situação que levanta questões legais importantes.

Em que circunstâncias é permitido a um partido enviar correspondência política?

Durante o período oficial de campanha eleitoral, os partidos políticos estão legalmente autorizados a enviar publicidade política para a morada dos eleitores, mesmo que estes não tenham dado consentimento prévio. Esta autorização tem como base a informação constante nos cadernos eleitorais.

O que são os cadernos eleitorais?

Os cadernos eleitorais são documentos oficiais que reúnem os dados de todos os cidadãos recenseados para votar em Portugal, incluindo:

  • Nome completo;
  • Número de eleitor;
  • Morada de recenseamento.

Os partidos que participam nas eleições podem aceder a esta informação, mas apenas para fins de comunicação eleitoral, e durante o período de campanha definido por lei. Assim, caso receba correspondência política com o seu nome e morada nesse contexto, tal está dentro do enquadramento legal.

Que tipo de dados pessoais estão acessíveis aos partidos?

Os partidos não têm acesso aos seus dados pessoais constantes do Cartão de Cidadão, das Finanças, da Segurança Social ou do Serviço Nacional de Saúde. Assim estas bases de dados são confidenciais e estão protegidas por leis específicas que impedem o seu uso para fins partidários.

Contudo, os partidos podem:

  • Utilizar os dados dos cadernos eleitorais;
  • Usar contactos fornecidos voluntariamente por simpatizantes em eventos, campanhas ou petições;
  • Adquirir bases de dados comerciais legalmente constituídas, desde que em conformidade com o RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados).

Qualquer utilização dos seus dados fora destes contextos é considerada ilegal.

A publicidade fora do período eleitoral é permitida?

Não. Fora do período eleitoral, o envio de publicidade política está sujeito a regras muito mais restritivas. Portanto, é necessário que o cidadão tenha dado o seu consentimento explícito e informado. Por exemplo:

  • Subscrição voluntária de uma newsletter partidária;
  • Participação num inquérito com aceitação do tratamento de dados;
  • Registo num evento político onde tenha aceite ser contactado.

Sem esse consentimento, o envio de qualquer mensagem — seja física ou digital — constitui violação da lei, nomeadamente do RGPD, em vigor em toda a União Europeia.

Como proteger os seus dados pessoais de uso indevido?

Existem várias formas eficazes de proteger a sua privacidade e evitar comunicações indesejadas. A seguir, apresentam-se algumas sugestões úteis:

1. Confirme os seus dados nos cadernos eleitorais

Verifique se a sua morada está actualizada no sistema de recenseamento. Pode fazê-lo através do portal recenseamento.mai.gov.pt.

2. Evite fornecer dados pessoais sem confirmar os termos

Sempre que participa num evento político, lê uma petição ou assina um formulário, confirme se está a autorizar o uso dos seus dados para comunicações futuras.

3. Utilize avisos na sua caixa de correio

Colocar um autocolante com a indicação “Publicidade não endereçada recusada” pode impedir a entrega de folhetos não personalizados, ainda que não bloqueie correspondência dirigida com nome e morada.

4. Apresente queixa à CNPD em caso de abuso

Caso receba publicidade política não solicitada, especialmente fora do período eleitoral, pode apresentar queixa à Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), anexando provas como fotografias, emails ou cópias das cartas recebidas.

É possível recusar publicidade política durante campanhas?

Sim, é possível. Mesmo durante o período de campanha eleitoral, qualquer cidadão tem o direito de exercer oposição ao tratamento dos seus dados pessoais, tal como previsto no RGPD.

Para tal, deve:

  1. Contactar directamente o partido político;
  2. Enviar uma declaração formal a solicitar que os seus dados não sejam utilizados para fins de comunicação;
  3. Guardar prova desse contacto (por exemplo, email com aviso de leitura ou carta registada).

Os partidos devem, por lei, respeitar esse pedido e eliminar seus dados das listas utilizadas para comunicação direta.

Quadro legal aplicável

As regras que regulam a publicidade política e o tratamento de dados pessoais estão definidas em várias fontes legais:

  • Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) – aplicável a todos os países da União Europeia;
  • Lei n.º 58/2019 – que adapta o RGPD à legislação nacional;
  • Leis eleitorais específicas – como o Código Eleitoral, que permite o acesso temporário aos cadernos eleitorais por parte dos partidos.

Estas leis têm como princípio fundamental a defesa da privacidade, impondo limites claros à recolha e utilização de dados, especialmente por entidades com objetivos políticos.

Conclusão: A cidadania também passa pela defesa da privacidade

Um partido político pode ou não enviar-lhe publicidade, dependendo do contexto e da forma como obteve os seus dados.. Em campanhas eleitorais, existe alguma permissividade legal. No entanto, fora dessas datas, o envio de mensagens não solicitadas viola claramente a legislação vigente.

Defender os seus direitos enquanto cidadão implica conhecer e exercer o controlo sobre os seus dados pessoais. Contacto –. O direito à informação nunca deve ultrapassar o direito à privacidade.


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